terça-feira, 18 de março de 2014

QUAL A SUA RELIGIÃO?

   Em uma humilde aldeia de algum lugar... Havia um homem simples e sábio que curava a alma de todos que lhe pediam auxílio.
    Ele espalhava sabedoria e amor a todos que estavam dispostos a ouvi-lo e aos que se encontravam perdidos nos caminhos do coração. Certo dia, um jovem viajante que chegara de uma longa viagem de meses, em busca de sua força interior, foi repousar em uma modesta pensão.
    Alguns dias se passaram e o menino começou a observar as atitudes generosas do homem velho. Conversando com ele, o jovem compreendeu que ali se encontrava um poço de sabedoria e prudência. Ele, que estava sedento de entendimento das verdades espirituais e de seu encontro com Deus, perguntou ao velho se podia ser, digamos, seu discípulo.
    "Para ser o mestre de alguém, precisamos o ser de nós mesmos. Eu não alcancei tal estado, mas vou te ajudar mesmo assim a encontrar o tesouro que reside em tua própria existência. Vou lhe apontar a direção com o maior carinho e entendimento que me couberem, mas depois disso, afirmo-te: deverá prosseguir sozinho e eu não mais conseguirei te amparar, pois tua força interior será a única capaz de fazer isso."
    O menino não o compreendeu totalmente, pois o velho fazia alusão à figuras que ele não entendia... Mas ficou grato por conseguir um mestre. E assim, o velho procurou mostrar ao viajante tudo o que conhecia. Quando contavam calúnias sobre ele, ele permanecia calado. Quando ele fazia favores e não lhe davam valor pelo esforço, nem um sinal de agradecimento, o velho abaixava a cabeça e retornava ao lar do infeliz para ajudá-lo novamente. Quando maldosos homens rudes e desocupados falavam mal dele e o maltratavam deliberadamente, ele sorria.
     Como entender toda essa submissão e covardia? O jovem perguntava ao velho os motivos de tais comportamentos dignos de homem sem estima própria, e ele dizia: "Quando levantam a mão em minha direção e me dirigem palavras de ódio ou indiferença, elas não me atingem. Pois o espírito é imortal, o corpo é o que padece. Assim, prefiro acreditar no infinito e na força indestrutível do meu Ser do que nesse pedaço de carne que me serve temporariamente. Quem acredita na Alma não se fere; quem vive pela matéria se machuca por não compreender que o universo é uno e toda ação que fazemos retorna em nós. E é por isso que eu sinto comiseração por esses infelizes irmãos, pois, ao atacarem meu corpo, acabam atacando a si mesmos.”
    Aos poucos o mestre o introduziu, com as demonstrações da retidão de seu caráter, nos ensinamentos do desapego, da verdadeira caridade, da compaixão, da humildade... O discípulo só não entedia como o velho chegara a tais revelações sobre as verdades imortais. O que o fazia se negar em prol de um inimigo, qual crença o tornava mais forte do que as exigências da matéria. Foi então, que um dia, ele perguntou: "Mestre, você já me apontou os caminhos da vida para uma verdadeira felicidade, a via do desapego do Ego e da ajuda ao próximo. Só que durante essa caminhada você tem recebido penosas provações, banhadas de sangue e de suor. Essa luta parece não acabar, mas mesmo assim você conserva a serenidade e o equilíbrio que jamais vi, mesmo não possuindo a garantia de que ao final da Jornada você encontrará a paz e o repouso do espírito. Então, lhe pergunto: afinal, da onde você tira essa força toda, em qual crença você se apoia para suportar esses desafios? qual a sua Religião?"
     “A minha religião é a do amor.”
      Intrigado pela resposta o discípulo retrucou: “E qual é essa religião, mestre?”
   “Meu filho, na verdade, isso não é religião. Durante milhares de anos, muitos mestres estiveram nos cantos do mundo inteiro propagando essa mensagem de libertação de todos os males do Homem. Só que ao invés dos seres a compreenderem no pleno exercício do trabalho sincero, eles preferiram categorizar o que não possui denominação, limitar essa força universal que não tem limites à exclusividade de alguns domínios. E aí, se criam as religiões que não passam de caminhos que levam e derivam de uma única verdade imortal que esses sábios nos ensinaram: o Amor. As religiões se fecham em si e segregam pensamentos contrários aos seus, pregam práticas que dizem as que levam a Deus, mas no final de tudo, todas falam do Amor.”
     “E como você consegue acessar essa força indestrutível? Como você sente a presença dessas verdades imortais, como Deus aparece para você?”
   “Através da Fé. E como eu a encontrei? Ah, é aí o momento em que você deve caminhar sozinho.”
     O viajante ficou estupefato com o enunciado do mestre, justo quando ele estava alçando voo em direção à compreensão de Deus, o mestre decide abandoná-lo e deixa-lo à própria sorte.
   “Meu filho, como você mesmo disse: eu apontei o caminho da felicidade através da demonstração do de desapego, da verdadeira caridade, da compaixão, da humildade e das demais virtudes. Eu revelei algumas leis do universo e dos mecanismos da vida. Mas isso não é o suficiente. Como eu lhe disse em nosso primeiro encontro: em determinado momento eu não mais poderia te amparar, você teria de seguir sozinho. Eis que essa etapa chega. Há um momento em que não basta mais conhecer as verdades universais, as virtudes que os mestres apregoam e os fundamentos religiosos que nos levam a compreensões superiores. É preciso trilhar esse caminho e não há mais ninguém que possa realizar isso, a não ser o próprio ser.”
    O jovem estava tão mais assustado do que surpreso, imaginando que sacrifícios teria que fazer para se encontrar com Deus. Exílio no deserto? Renúncia a tudo? Desapego de todos que amava? Flagelamento do corpo? 
    “E que caminho é esse? As práticas religiosas podem me ajudar? Como farei? Ficarei sozinho e sem teu ombro para me apoiar”
   “Não será preciso negar tudo imediatamente, poucos estão preparados para tal feito. O caminho que te levará à redenção e ao encontro com Deus é o do autoconhecimento em conjunto com a reforma íntima, não necessitando submeter-se a religião nenhuma, mas às vontades soberanas que residem em ti.”
    “E como é isso? Tão simples?”
    “Não é trivial, meu jovem. Poucos estão dispostos a isso, pois implica um esforço hercúleo em enfrentar suas sombras interiores. A tarefa será vencer a si próprio, para alçar a plenitude do Espírito, livre das paixões mundanas. E isso não se faz através de rituais inconscientes e ilusórios, ou de técnicas que só nos levam a saciar nossas mentes curiosas, mas que não exigem redenção. Se faz através da compreensão daquilo que ainda somos fracos e frágeis. Ou seja, é necessário se autoconhecer. E isso ninguém pode fazer por você, por isso o caminho é solitário. Terás de adentrar nas profundezas da Alma. Em conjunto com essa pratica verdadeira, terá de buscar o aperfeiçoamento dessas falhas, caso contrario de nada servirá conhecer-te.”
     “E por que eu terei que ficar sozinho, abandonado, sem o seu apoio?” 
    “Em nenhum momento falei que te abandonarei, pois, que seria de um servo de Deus que busca a redenção dos erros através do auxilio ao próximo, se eu negasse ajuda a um homem esforçado? Sempre estarei aqui para oferecer carinho e escuta quando precisar enfrentar suas lutas. O caminho que traçará sozinho está na busca de si e nas dolorosas provações que terá de enfrentar para conquistar a vitória do Espirito sobre a carne.”
    “Mas e Deus? Como o encontrarei nos momentos mais angustiantes de minha jornada, e como renovarei meus esforços na Fé se não o verei?”
    “A minha insuficiência de apoio fraterno reside aí. Quando não houver mais ninguém que te compreenda e compartilhe de seus pensamentos mais penosos e angustiantes, quando sentires abandonado física e espiritualmente, quando parecer humilhado frente aos homens que ostentam poder e ganância, quando fores agredido e tiver que compreender para não revidar, quando tiveres que desapegar de emoções destrutivas e egoístas frente à morte de um ente querido, enfim, enquanto estiveres trilhando o caminho redentor da libertação do espírito sobre o corpo, caminho esse cheio de sacrifício e desprendimento, no momento em que repousar sua cabeça em um leito frio e sua consciência estiver tranquila quanto as suas ações do dia, aí, encontrará Deus. Essa é a força, a Fé, que faz com que sintamos a tranquilidade mesmo nos piores momentos. Deus não é uma figura que aparece esporadicamente somente aos filhos que alcançaram a plenitude, ele nos sustenta nos piores desafios da vida e compartilha conosco as alegrias mais singelas e vitorias diárias. Ele aparece quando estamos orando, quando depositamos nele nossa confiança dos porvires, quando erramos pelo mundo sem saber onde ir, quando retemos nossos impulsos animalescos para não ferir o próximo e até mesmo quando não temos consciência d’Ele em nossas vidas. Mas verdade seja dita que ele acompanha os passos de todos seus filhos, independente da crença ou atitude. Feliz daquele que, pelo exercício da Fé, o busca e entrega sua vida a Ele, pois assim, consegue suportar as provações que a vida oferece como um vitorioso. E é por isso, meu querido discípulo, que não há uma religião que consiga abarcar toda sua infinita Grandeza e que propicie a redenção espiritual apenas através de rituais. O que nos leva à compreensão e sintonia com Deus é o que cultivamos em nossos pensamentos e ações diárias, e não em nossas escolhas religiosas.”
   O viajante, antes, indeciso, desolado e perdido em Jornada, compreendeu verdadeiramente o que o mestre disse. Renovaram-se suas esperanças e energia. Profundamente agradecido pelo velho amigo que ensinara as lições mais preciosas que todo o ouro do mundo, o discípulo partiu da aldeia carregando os mais belos ensinamentos que o auxiliariam na vida e, agora, tinha um novo mestre.
    O mestre ficou emocionado e feliz pela lucidez com que seu amigo deixara a aldeia. Porém, não seria ele o mestre que acompanharia o viajante em sua caminhada.
    O jovem, agora, era discípulo de si e seu novo mestre. Bastava-lhe aplicar todo o conhecimento das virtudes que aprendera com o velho e dominar-se através do conhecimento de si próprio. Seu mestre era si mesmo, pois em seu Ser, em sua existência, permanecia toda a verdade do universo, toda a Força cósmica, a morada de Deus. Cabia a ele acessá-la pela luta redentora e pelo exercício da Fé.
   Antes, um jovem perdido e imaturo, curioso e desiludido que não sabia o que procurava. Agora, um discípulo em busca da sublimação do corpo, do Ego em relação ao Espírito e, por isso, seu próprio mestre, pois, de sua força interior detentora das verdades do universo estaria a chave para sua libertação. Agora, sua Jornada consistia em caminhar sozinho, ou melhor, com Deus. 
   Todos são eternos viajantes. Cada planeta, existência, roupagem, encontro constituem oportunidades de vitória sobre si. Cabe a cada um procurar ser discípulo de Deus e mestre de si, pois Ele se encontra em nós. Essa caminhada pode parecer solitária e penosa pela renúncia aos prazeres do Ego que teremos que fazer, mas ao final, encontraremos a força cósmica universal, Deus, que reside em nós. Será a vitória do Espírito sobre a carne e então, o encontro com o verdadeiro Amor.
(Retirado do Facebook, página do Universalismo Crístico - postado por Lívia Tedeschi)

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