quarta-feira, 24 de julho de 2013

NÃO É O QUE VOCÊ FAZ, MAS O QUE VOCÊ PARA DE FAZER QUE IMPORTA

Os ensinamentos do sábio indiano Sri Nisargadatta Maharaj(1897-1981) são discursos potentes sobre a Verdade mas também podem soar  enigmáticos a quem entra em contato pela primeira, apesar da clareza e de serem notavelmente diretos, como no trecho abaixo, parte do seu mais famoso livro, “Eu Sou Aquilo” (I Am That, 1973). Um dos maiores gurus de Advaita Vedanta do Século XX,advaita significando do sânscrito “não-dois“, ou Não-Dualismo, uma filosofia que afirma que tudo é um único Grande Ser (“Brahman”) e que nossa verdadeira identidade (“Atman”) está neste Grande Ser,Sri Nisargadatta foi um sábio simples que ensinava acima de tudo a percepção pura de si mesmo, fazendo com que essa auto-realização dissolva o principal problema da existência humana: aignorância. A ignorância de nossa verdadeira identidade, Brahman,  que é trocada equivocadamente por nossa identidade com o corpo e as coisas impermanentes, gerando ações equivocadas em vida e o sofrimento em suas mais variadas formas.
Em “O caminho da realização: Parte um“, capítulo do livro “Eu Sou Aquilo” (“I Am That”), Sri Nisargadatta faz exatamente isso, frisando esse mesmo ponto de diversas maneiras diferentes. Há frases fortes a que o Ocidente não está muito acostumado a ouvir, como “nada que você faça mudará a si mesmo“, ou então “pare a mente e simplesmente seja“, mas durante todo o livro elas são permeadas com ricos esclarecimentos, como o que também está nesse trecho e fala sobre o trabalho na natureza, ou outro em que fale sobre  o estado de testemunha. Ainda assim, sem experiência e sem descanso na mente, é muito difícil compreender frases como “somente quando a própria idéia de mudança é vista como falsa e abandonada, o imutável pode surgir“, ou o próprio título do livro, “eu sou Aquilo“.
É um trecho para se ler e reler várias vezes, se aprofundar, buscar compreender e viver.
A tradução é de  Swami Sunder Svarupo.
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EU SOU AQUILO” [TRECHO]
por Sri Nisargadatta Maharaj
Onde está a necessidade de mudar o que quer que seja? A mente está mudando de alguma forma todo o tempo. Olhe para sua mente desapaixonadamente; isso é o suficiente para acalmá-la. Quando ela estiver quieta, você pode ir além dela. Não a mantenha ocupada todo o tempo. Pare-a, e simplesmente seja. Se você der descanso à mente, ela se centrará e recobrará sua pureza e força. O pensar constante a faz decair.
Nada que você faça mudará a si mesmo, pois você não precisa de nenhuma mudança. Você pode mudar sua mente ou seu corpo, mas isso é sempre algo externo a você que foi mudado, não você mesmo. Por que se importar com toda essa história de mudança? Realize de uma vez por todas que nem seu corpo, nem sua mente e nem mesmo sua consciência é você e mantenha-se de pé sozinho em sua verdadeira natureza além da consciência e inconsciência. Nenhum esforço pode levá-lo lá, somente a clareza do entendimento. Não tente reformar a si mesmo, simplesmente veja a futilidade de toda mudança. O mutável mantem-se em mutação enquanto o imutável espera. Não espere que o mutável o leve ao imutável – isso jamais acontecerá. Somente quando a própria idéia de mudança é vista como falsa e abandonada, o imutável pode surgir.
As atividades da maioria das pessoas é sem valor, senão destrutiva. Dominado pelo desejo e medo, eles não podem fazer qualquer coisa de bom.
Os gurus estilizados falam de madurez e esforço, de mérito e aquisições, de destino e graça; tudo isso é mera formação mental, projeções de uma mente viciada. Ao invés de ajudar, eles obstruem. Não corra para a atividade. Nem aprendizagem nem ação podem realmente ajudar.
Não é o que você faz, mas o que você para de fazer que importa.
A atividade não é ação. Ação é oculta, desconhecida, inconhecível. Você pode somente conhecer o fruto. Ação não leva à perfeição; perfeição é expressa na ação. Há uma diferença entre trabalho e mera atividade. Toda a natureza trabalha. Trabalho é natureza. Natureza é trabalho. Por outro lado, a atividade é baseada no desejo e no medo, no desejo de possuir e desfrutar e no medo da dor e aniquilação. Trabalho é pelo todo para o todo, atividade é para si mesmo e por si mesmo.
Sua mente está estagnada nos hábitos de avaliação e aquisição, e não admitirá que o incomparável e o inobtível estão esperando eternamente dentro de seu próprio coração por reconhecimento.Tudo que você tem a fazer é abandonar todas as memórias e expectativas. Apenas mantenha-se pronto em total nudez e vazio.  Não faça nada, apenas seja. Apenas sendo tudo acontece naturalmente. Seja nada, saiba nada, tenha nada. Esta é a única vida que vale a pena ser vivida, a única felicidade que vale a pena ter.
Você não pode fazer nada. O que o tempo traz, o tempo levará embora. Este é o fim da Yoga, realizar independência. Tudo o que acontece, acontece na e para a mente, não para a fonte do “Eu sou”. Uma vez que você realize que tudo acontece por si mesmo (chame a isso destino ou vontade de Deus, ou mero acidente), você permanece como testemunha somente, compreendendo e apreciando, mas nunca perturbado. Você é responsável somente pelo que você pode mudar. Tudo que você pode mudar é sua atitude. Aí mora a sua responsabilidade.

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