Se buscarmos um elemento comum a praticamente todas as religiões, além da crença em Deus, com certeza iremos nos deparar com o conceito de alma ou espírito. Em todos os tempos, todos os povos guardaram a convicção de que há, no homem, um componente imortal, sede de sua consciência individual.
Mas – curioso! – a crença, como tal, não resolveu o problema moral da humanidade. Ao contrário, a fé religiosa parece desviar o ser humano de seu entorno natural, levando-o à busca frenética do mistério. Para cultuar o sobrenatural, as religiões engendradas pelo homem, terminam por desprezar a límpida moral emergente das leis da natureza. Criando seus dogmas, códigos, hierarquias, sacerdócios, ritos e liturgias, fazem desses aparatos pontes para o sobrenatural, o que lhes assegura poder e domínio.
Não basta ter fé
As chamadas “teocracias”, ou “governos de Deus” se constituíram nas mais cruéis e sanguinárias ditaduras. Ainda o são, em pleno Século XXI, em culturas que insistem em não fazer concessão ao laicismo (doutrina filosófica que defende e promove a separação do Estado das igrejas e comunidades religiosas, assim como a neutralidade do Estado em matéria religiosa. Não deve ser confundida com o ateísmo de Estado. Os valores primaciais do laicismo são a liberdade de consciência, a igualdade entre cidadãos em matéria religiosa, e a origem humana e democraticamente estabelecida das leis do Estado) e à liberdade de pensamento. Subsistem resquícios teocráticos mesmo nas democracias, onde se elegem governantes e parlamentares comprometidos com crenças retrógradas, capazes, na prática, de anular os valores historicamente conquistados pelo homem. Então, para o cultivo da ética, não basta ter fé. Tampouco, basta ter uma religião. Fé religiosa e ética frequentemente se contrapõem.
O sentido da vida
É preciso acrescentar à fé uma ampla compreensão do sentido maior da vida. E viver de acordo com esse sentido, que, em sua essência, é o da prática do bem, do amor, da justiça, da caridade para com todos. Ideais como de liberdade, igualdade, fraternidade, que não foram postulações religiosas, mas, via de regra, conquistas obtidas contra a religião, indicam a aspiração do homem no sentido do progresso.
É nesse movimento espontâneo que se pode identificar a força do espírito imortal, fagulha da própria divindade, que a todos alcança, crentes ou não, mas, indistintamente, filhos de um mesmo Deus e vocacionados à perfeição. O enfoque da vida a partir da realidade do espírito conduz ao mais autêntico humanismo.
O humanismo espírita
Uma postura otimista acerca do homem deve ser marca fundamental do espírita. Crer em Deus e não acreditar no homem é contrassenso. É admitir a falibilidade divina: o Criador teria projetado muito mal a criatura. Teria se enganado com relação a ela. Aquele que acredita no homem crê também no progresso da humanidade como um todo, ou de uma nação como grupo de indivíduos. Basta ver o que fomos e o que somos para avaliaremos o que seremos.
O mal-estar que vivemos, fruto de desmandos e desequilíbrios, não indica retrocesso. Hoje, as injustiças e a corrupção nos fazem mais mal do que ontem. Aparecem mais, porque nos revoltamos mais contra elas, tomados de louca obsessão por debelá-las. Se já somos capazes de assim sentir é porque podemos operar transformações: “A aspiração por uma ordem superior de coisas é indício da possibilidade de atingi-la”, escreveu Kardec, em solene declaração de fé na humanidade. Assino embaixo.
Milton Rubens Medran Moreira (Retirado do site: http://www.espiritbook.com.br/)
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