sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

    Era fevereiro. Um bloco carnavalesco avançava pelas ruas da cidade. Cerca de cem integrantes fantasiados, cantavam, dançavam, sorriam. O bloco de desencarnados, porém, era muito maior. Aproximadamente quinhentos espíritos acompanhavam o grupo, numa perfeita simbiose.
    Em comum entre encarnados e desencarnados, havia o desconhecimento sobre onde acaba a alegria e começa o abuso. Contagiante, o bloco de "vivos" e "mortos" prosseguia.
   Um jovem, na casa dos dezesseis anos, observa a folia sentado na sarjeta. Embora nascido em berço de ouro, era desnudo de afeto e subnutrido de educação. Atendendo à ordem de espíritos zombeteiros, um dos integrantes do bloco convida o adolescente a dançar. Oferece-lhe um cigarro recheado com erva alucinógena. Dança, canta e ri. Não sabe que, mais tarde, seu vício sustentará traficantes, enquanto aproveitadores desencarnados o atirarão em perturbações de conseqüências imprevisíveis.
    Mais adiante, outra jovem assiste à turba. Na véspera, havia sofrido terrível desilusão amorosa, que lhe destruíra os mais singelos planos de felicidade. Abatida, atira-se ao bloco, numa atitude mais de desespero do que de alegria. Dança, canta e ri. Retorna ao lar e, embriagada e deprimida, põe fim à vida cortando os pulsos.
   Num bar de esquina, mais um transeunte se interessa pela algazarra. Depois de alguns goles, atende ao chamado de entidades fanfarronas e junta-se ao bloco. Dança, canta e ri. De volta para casa, encontra a esposa chorando seu abandono. Mantém breve discussão com a companheira para, logo depois, deixar o lar, levado pelo efeito do álcool.
    O bloco passa. Todos dançam, cantam e riem. Ninguém sabia, porém, que naquele dia, em menos de uma hora, a cidade ganhara uma suicida, um viciado e um lar destruído.
Retirado do site:  http://espiritananet.blogspot.com/ -  Do livro 'Vida e Renovação' - Clayton Levy (ditado por Espíritos diversos)

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