domingo, 20 de março de 2011

O VALOR DO ERRO

     Quando entramos no caminho do despertar da Consciência temos que saber utilizar todos os acontecimentos, bons ou ruins ao nosso favor, aprendendo a interpretar corretamente cada evento. Tudo que acontece está intimamente relacionado ao nosso mundo interior e são indícios do que precisa ser trabalhado, aperfeiçoado.
     O erro é um mecanismo sistemático, que nos condiciona a dar sempre a mesma resposta para os mesmos eventos. Em um primeiro momento, aprender a olhar para dentro de si mesmo e enxergar os processos psicológicos em plena ação, com seus mecanismos e associações, é extremamente difícil. Seria como estarmos andando no sol do meio-dia e de repente entrarmos em um quarto totalmente fechado, sem janelas nem frestas por onde possa penetrar um filete de luz. Em tal ambiente, nossos olhos não enxergam absolutamente nada. Porém, se permanecermos ali, quietos, pouco a pouco nosso olho se acostuma e começamos a discernir contornos, objetos e com um pouco mais de tempo, até mesmo os detalhes de cada coisa. Da mesma forma, olhar para dentro é fixar a atenção em algo que nossa capacidade não está adaptada. É como olhar na escuridão. Mas com paciência e treinamento, esse exercício vai revelando coisas surpreendentes, entre elas, a descoberta de que todos os nosso vícios, maus hábitos e complexos, os quais são criados a partir de distorções que nós criamos da realidade e portanto, podemos perfeitamente recriá-las e nos tornarmos pessoas melhores.
    Olhar para nossos erros é uma situação ainda mais difícil do que simplesmente olhar para dentro. Afinal, trata-se muitas vezes daquilo que nos faz sentir vergonha de nós mesmos perante os demais. O mais comum é encontrarmos dois padrões de comportamento frente aos erros: existem os que tem grande facilidade para perdoar os seus próprios erros e os que tem grande facilidade para condenar-se por ter errado. Ambos os padrões geram consequências internas que não corrigem os erros e, em muitos casos, só agravam.
   Os erros são a mola propulsora da transformação, porque fazem despertar a necessidade de mudar. A pessoa que “não erra” (ou que não admite os seus próprios erros) não tem o que transformar, porque não sente essa necessidade. Existem dois tipos de erros: os que são fruto da inexperiência e os que são fruto da falta de compreensão, acontecendo como resultado do descontrole ou da negligência diante de uma situação. Embora sintamos que eles tenham pesos diferentes, na verdade ambos revelam uma deficiência, ou carência de compreensão e a isso se deve o motivo de repetirmos sistematicamente cada erro. É como o sintoma de uma doença que se desenvolve dentro da pessoa e se ela não parar para olhar com mais atenção, a tendência é que piore. Muitas pessoas combatem os sintomas e não a doença, como quando tratamos a febre ou a dor de cabeça sem buscar a sua origem. Com os erros acontece igual; queremos deixar de errar, mas na maioria das vezes sequer entendemos o que nos leva a repetir os mesmos erros.
    Dizer pra si mesmo que não vai mais fazer tal ou qual coisa, na maioria das vezes não é o suficiente. Dentro de nós existem mecanismos que são acionados em determinadas circunstâncias e nos conduzem a repetir os mesmos erros, vez após vez, mesmo que tenhamos a mais absoluta convicção de que não queremos mais fazer aquilo. Existe um ditado árabe que diz: “Aquilo que você faz uma vez, talvez nunca mais ocorra novamente; mas o que você fizer duas vezes, se repetirá para sempre”. Já um provérbio japonês diz que “milhares de repetições e a perfeição emerge do fundo de nosso ser”. Quanto mais se repete, mais automatizado se tornará esse mecanismo, até chegar no ponto em que fazemos sem nem perceber. O mesmo acontece com nossos erros.
    Não podemos dizer que o “certo” a se fazer é ser duro consigo mesmo, nem tampouco dizer que a pessoa precisa aprender a se perdoar, pois dependendo do temperamento e da personalidade de cada um, essas atitudes só agravariam o problema. Uma pessoa extremamente complexada pode se fechar mais ainda nesse mundo derrotista que ela criou se resolve ser mais rígida e implacável consigo mesma; já uma pessoa displicente e irresponsável pode achar uma excelente estratégia o “aprender a perdoar-se”, porque isso poupa o trabalho de ver o que precisa ser feito. Existe uma solução intermediaria, que não envolve estabelecer uma relação tendenciosa que é a compreensão. Entender por que erramos nos permite corrigir a visão distorcida e ao mesmo tempo perceber que não erramos porque somos maus ou sem-solução; nós erramos porque não amadurecemos as características que vão nos permitir enxergar aquele evento com clareza. Isso nos traz esperança de que é possível mudar e o comprometimento de deixar de agir daquele forma inadequada e infantil, que nos traz sofrimento.
    Após a compreensão inicial, é necessário amadurecê-la, nutri-la com mais reflexão e valorização do aprendizado, a fim de que se fixe em nossa consciência e permita a substituição do hábito velho pelo hábito novo. Valorizar as situações em que agimos de forma adequada e nos sentimos bem, por exemplo, refletindo consigo mesmo os benefícios dessa nova forma de agir. O valor é algo que se deposita por camadas, é como um reparo em uma peça de gesso; se você colocar toda camada de gesso de uma vez só, ela cai; é necessário inserir uma camada fina, que quando se fixar, está pronta para receber uma nova camada e assim por diante.
    Estudos apontam que para concretizar uma mudança de atitude é necessário repetir o novo padrão mais de vinte vezes. A cada vez que repetimos, geramos um caminho por onde trafega a informação entre os neurônios e quanto mais repetimos aquilo, mais os nerônios se acostumam a fechar aquele circuito de sinapses, tornando-se cada vez mais espontâneo. Depois de umas vinte vezes, o comportamento que era estranho já passa a ser adotado de forma mais orgânica e assim é que se substitui um velho hábito por um hábito que conscientemente elegemos.
    Dentro de nós, nunca podemos destruir uma ponte que liga um tipo de circunstância a um estado interior, sem construir uma nova ponte ligando esse mesmo tipo de circunstância a um novo estado de consciência. Assim aprendemos a utilizar a mecânica da vida a nosso favor. Isso vai servir para hábitos mais elementares, como por exemplo, parar de fumar ou de roer unhas. Porém a vida é muito mais complexa que isso e em muitas situações não vai adiantar substituir um hábito mecânico por outro hábito mecânico. O que fazer então?
    É aqui que entra a grande chave da transformação. Nessa reconstrução de novos hábitos, devemos adotar padrões abertos. Um padrão aberto não é um “pacote fechado” que aplicamos a um tipo de circunstância, mas sim uma atitude de análise e discernimento das opções possíveis naquele tipo de circunstância. Por exemplo, todo hábito mecânico nos induz a associar uma forma de ver e reagir diante de cada evento. Assim, em situações de perigo, o assustado foge, o brigão enfrenta e o inseguro trava. Porém existem momentos em que o melhor é fugir, outros momentos em que o melhor é brigar e em outros que a atitude mais digna consigo mesmo é não reagir. Como adotar um padrão que permita escolher que atitude tomar? O padrão de comportamento tem que ser transferido da ação para a análise. Ou seja, não se trata de tomar uma atitude específica, mas aprender a deter-se diante dos eventosnovos hábitos se incorporam à nossa vida por disciplina, mas não por forçar-se e sim por escolha voluntária, ainda que essa escolha implique em fazer sacrifícios. Por isso é importante sempre discernir o que nos trará mais felicidade em um espaço de tempo maior e assumir consigo mesmo o compromisso de nunca mais trocar toda parreira por um só cacho de uvas… e discernir o que, a longo prazo, é mais proveitoso. 

http://www.revolucaointerior.com.br (Retirado do site www.portalarcoiris.ning.com)

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